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O uso da língua para a exclusão social

Texto 1: Sobre o preconceito linguístico, por Marcos Bagno, resumido.

A língua é parte constitutiva da identidade individual e social de cada ser humano — em boa medida, nós somos a língua que falamos. Isso significa que o modo como falamos manifesta socialmente nossa identidade, nossa cultura, nossas origens. Também significa que nós não somos simples "usuários" da língua, pois a língua não está fora de nós, como uma ferramenta que emprestamos e depois devolvemos. Nossa relação com a língua é muito mais complexa do que um simples "uso". Por isso, o apontamento de erros e a ridicularização de falantes são usos da língua que servem como instrumentos de controle, preconceito e coerção social, mas de maneira complexa e aparentemente sutil, passando muitas vezes despercebida. A discriminação social baseada no modo de falar é algo que passa com muita "naturalidade" pela sociedade. A acusação de "falar tudo errado", "atropelar a gramática" ou "não saber português" pode ser proferida por gente de todos os espectros ideológicos, desde o conservador mais empedernido até o revolucionário mais radical. Muitas pessoas que se mostram atuantes na defesa dos direitos das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos índios, dos pobres etc. abraçam alegremente a ideia de que existe gente que fala certo e gente que fala errado, que a verdade sobre a língua é o que aparece nas gramáticas normativas e nos dicionários, que é preciso consertar a língua das pessoas que falam errado e por aí vai. 

Texto 2: sobre o uso da língua como fator de discriminação e exclusão social, resumido, texto escrito pelo músico Rodrigo Ratier.

“Numa época em que a discriminação de raça, cor, religião ou gênero não é publicamente aceitável, o último bastião da discriminação social velada vai continuar a ser o uso da linguagem de uma pessoa”, escreve o linguista Gabriel Othero, citando a sociolinguista britânica Lesley Milroy. A língua culta é diferente da língua cultuada, que se torna um instrumento de poder. Ela segrega quem não domina seu código. Ridiculariza quem se desvia da norma. Algumas áreas usam esse mecanismo à exaustão. O direito é um exemplo gritante. Para compreender um texto jurídico, é preciso superar uma dupla barreira. A primeira é o conhecimento da legislação. A segunda é a da linguagem própria dos profissionais, quase sempre propositalmente complicada.

Nesse contexto, pensamos as mesóclises, tão caras ao nosso presidente. Um artigo do advogado João Ricardo da Costa Gonçalves traz uma comparação esclarecedora. Ele contou o total de mesóclises em três Constituições brasileiras. Na de 1824, havia duas. Na de 1891, 25. Na de 1988... eram 81! Isso apesar desse tipo de colocação pronominal ter caído em desuso décadas antes da promulgação da última Carta Magna. Não por acaso, o direito é a área de origem de Temer. Seja pela recusa ou pela incapacidade de se fazer entender por um público mais amplo, o presidente legitima a linguagem como ferramenta de exclusão social. Uma ferramenta de exclusão que é aplaudida pela sociedade, ao invés de desmascarada.  Agora temos um presidente que fala certo, disse o jornalista após seu discurso, sem considerar se o uso da mesóclise é compreensível ao povo, sem considerar que o presidente é representante do povo e, portanto, deve evitar o preciosismo linguístico desnecessário. Pode falar corretamente, sem o uso de estruturas cultuadas que carregam um mito de prestígio e uma história de discriminação e exclusão.

 

Texto 3: "minha formação democrática" x preciosismo linguístico - vídeo-entrevista sobre a mesóclise, publicado pela TV Folha

Texto 4: "a riqueza da língua falada" - vídeo-entrevista sobre a riqueza da língua e da identidade brasileira, o respeito às variedades linguísticas (regionais/geográficas, históricas, sociais/socioculturais) e o preconceito linguístico.

Texto 4: "as marcas do português brasileiro" - variedades regionais brasileiras, distinções entre Brasil e Portugal, questões históricas e regionais.

Produção: produção textual de um panfleto informativo alertando a população sobre o preconceito linguístico. O material precisa fazer com que as pessoas se identifiquem nele, identifiquem seus preconceitos nele. Busquem panfletos, informes, materiais informativos distintos e elabore um material original a respeito do preconceito linguístico. 

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