
Língua Portuguesa
Slam
Poesia falada, crítica social, resistência e a trajetória dos Saraus de prestígio aos Slams da periferia
1. Texto do jornal NEXO, resumo da matéria sobre os Slams
Em novembro de 2016, a Flupp (Festa Literária das Periferias) no Rio de Janeiro sediou o primeiro campeonato de poesia falada internacional da América Latina, o Rio Poetry Slam, que recebeu slammers de 16 países e a ganhadora Mel Duarte, autora do livro "Negra Nua Crua".
Os slams são campeonatos de poesia. São 3 minutos de apresentação: uma poesia de autoria própria, sem acompanhamento musical ou adereços. Pode haver improvisação. Não há regras de formatação. O júri escolhido na hora dá notas de 0 a 10.
O slam foi criado nos anos 1980 em Chicago, Estados Unidos, quando a cultura hip hop tomava forma, e chegou ao Brasil nos anos 2000. O primeiro campeonato foi o ZAP (Zona Autônoma da Palavra), trazido por um coletivo paulistano de Teatro Hip Hop. Hoje há em torno de 30 slams. São Paulo tem o maior número, como o Slam Interescolar, o Slam Resistência e o Slam da Guilhermina, mas há competições em todo o país. O espaço ocupado pelos slams são os espaços públicos, como as praças. O Slam Resistência, por exemplo, acontece na praça Roosevelt na primeira segunda-feira de cada mês às 19h.
No Brasil, os slams são próximos de outro espaço da literatura das periferias: os saraus. Há em ambos grande interação entre os participantes. Dialoga com o público mais jovem, talvez pelo caráter competitivo ou pelo performático, mas o público vem crescendo. O slam contribui para a autorrepresentação das minorias, como mulheres, negros, lésbicas, gays, moradores das periferias em geral, segundo a pesquisadora Jéssica Balbino. Não há restrição, qualquer um pode participar. Há ainda slams exclusivos de mulheres, como o Slam das Minas, em São Paulo.
Texto 2: A história dos Saraus - texto de Lucía Tennina - LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI
A palavra "sarau" não é recente. Diversas músicas, romances, cartas, crônicas e memórias do século XIX, da Europa e da América, fazem referência a essas luxuosas reuniões de amigos, artistas, políticos e livreiros, que, com frequência variada, encontravam-se em casas de certas figuras da alta sociedade ou em espaços exclusivos desses setores – como clubes e livrarias – para tornar suas criações públicas. Registros desses encontros podem ser encontrados, por exemplo, nas crônicas de Machado de Assis, em que há um grande sarau de jovens na casa do senador Nabuco ou no clube Beethoven, que “reunia entre seus sócios o que de melhor na sociedade fluminense havia” (Ilustração Brasileira, 1877 apud Pinho, 2004, p. 238).
O termo "sarau" deriva etimologicamente do latim serum, que significa “tarde”, período em que justamente se davam os encontros. A dança, a música e a literatura eram as artes protagonistas das reuniões, apesar de a atenção dos presentes concentrar-se também na comida que era servida, na vestimenta dos convidados e nos modos de recepção (Pinho, 2004, p. 238). As representações, nesse sentido, eram duplas. Havia um interesse artístico, que corria paralelo à intenção de oferecer capitais simbólicos necessários a fim de legitimar as obras frente aos representantes da sociedade aristocrática e da intelectualidade da época. Ao mesmo tempo, havia um interesse em exibir a posição de classe.
Os saraus constituíam um microcosmo social que evidenciava uma sociedade em formação, caracterizada pelo reposicionamento dos indivíduos que vivenciavam a passagem de um passado agrícola e patriarcal para um mundo urbano de ofícios diferenciados, sustentado por novas alianças e disputas de poder (Sorá, 2010, p. 66).
No começo do século XXI, essa prática, no momento já deslocada pela cultura letrada, é retomada e ressignificada manifestadamente nas regiões periféricas da cidade de São Paulo. Porém, como todo deslocamento de um domínio de origem para outro, não se tratava de uma cópia dos saraus das salas das elegantes casas das elites paulistas, mas de múltiplos processos que os tornaram diferentes a ponto de não permitir comparações entre si. Trata-se, pode-se dizer, de uma apropriação livre que mantém apenas o rótulo sarau e a arte como palavra de ordem central.
Os saraus das periferias podem ser definidos, de um modo breve, como reuniões em bares de diferentes bairros suburbanos da cidade de São Paulo, onde os moradores declamam ou leem textos próprios ou de outros diante de um microfone, durante aproximadamente duas horas. Muitos bares – espaços nos quais normalmente acontecem os episódios que se transformam em estatísticas posteriormente (os assassinatos e o alcoolismo) – funcionam, desde então, também como centros culturais.
Referências
PINHO, Wanderley (2004). Salões e damas do Segundo Reinado. São Paulo: Gumercindo Rocha Dorea
SORÁ, Gustavo (2010). Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São Paulo: EDUSP.
Jade Fanny
Paulina Turra