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Pintor: Rafael Sanzio
Produzida em: entre 1509 e 1511
Título: “A escola de Atenas”
Tema: Representação da Academia de Filosofia e Ciências de Atenas inaugurada por Platão (387 a.C.). Funcionou por 900 anos. Personagens: filósofos gregos que não viveram na mesma época estão lado a lado.
Alguns dos filósofos que aparecem no quadro:
1: Zenão de Eléia
2: Epicuro
3: Acredita-se ser o próprio Rafael
6: Pitágoras
7: Alcibíades ou Alexandre, o Grande
9: Monalisa, Fornarina como uma personificação do Amor ou ainda Francesco Maria della Rovere
11: Parménides
12: Sócrates
13: Heráclito (Miquelângelo) .
14: Platão segurando o Timeu.
15: Aristóteles segurando Ética a Nicômaco
16: Diógenes de Sínope
18: Euclides ou Arquimedes acompanhado de estudantes
20: Ptolomeu.

Pintor: M. Merisi da Caravaggio foi um importante pintor italiano do final do século XVI e início do XVII.
Este artista barroco nasceu na cidade de Milão em 29 de setembro de 1571.
Estilo do pintor: retratava personagens bíblicos baseando-se em pessoas comuns que encontrava nas ruas de Roma. Colocava o foco da imagem nos rostos dos personagens. Usava efeitos de sombras e luzes. Pintava o fundo de suas obras de cores escuras, principalmente de cor preta.
Título: Crucificação de São Pedro
Vida de São Pedro (resumo escrito pela Paróquia de São Pedro - adaptado): Quando Jesus foi preso, apenas Pedro, em companhia de João, teve a coragem de segui-lo. Reconhecido, porém, como um dos discípulos, negou que conhecesse tal homem. Mas nem essa tríplice negação, chorada amargamente por ele, nem a dor e o arrependimento, traduzidos num copioso pranto, diminuíram sua confiança e seu amor pelo mestre. Também o mestre não diminuiu sua ternura pelo discípulo que lhe era tão caro. Ao contrário, demonstrou-a claramente nas perguntas que lhe dirigiu poucos dias antes de sua ascensão: "Pedro, tu me amas?". E após a resposta afirmativa, com estas palavras "apascenta meus cordeiros", Jesus o confirmou no primado da igreja e lhe entregou todo o rebanho. Depois de muitas labutas e sofrimentos, Pedro viu chegar o seu fim na terra. Corria o ano de 64 e ele se encontrava encarcerado. Tiraram-no do cárcere e o levaram para ser crucificado mas ele conseguiu que os carrascos o pregassem na cruz de cabeça para baixo porque não se achava digno de ser tratado como seu mestre.
RENASCIMENTO, HUMANISMO E CLASSICISMO
1. Caracterização da época
Conceito e âmbito
Referindo-se ao Renascentismo, podemos dizer que ele foi um dos períodos mais produtivos da cultura ocidental, como:
• Dante; • Camões; • Petrarca; • Shakespeare; • Rabelais; • Ronsard; • Cervantes; • Tasso; • Ariosto; • Da Vinci; • Michelângelo; entre muitos outros.
Esse período foi marcado pela supervalorização do homem, pelo hedonismo e pelo antropocentrismo.
Humanismo (Pré-Renascimento) e Renascimento
O humanismo renova o conceito de Homem Integral, ou seja, o humanismo é considerado um interesse tanto pelo homem como pelo o que ele pode fazer de profundo, glorioso e alto. O homem integral é um senhor do mundo, com muita vontade de conhecê-lo profundamente e desfrutar das delicias e dos prazeres da vida. A partir daí surge a exaltação do Homem-Aventura, do Homem-Cortesão, que sabe da poesia e da música, e do Homem-Soldado, que não para de ganhar o céu, que luta, para deixar sua marca no mundo.
Características do Renascimento
O renascimento apresenta sete características principais, vejamos
:• Universalismo: quando o mundo e o homem são considerados objetos da arte clássica, onde há um apego maior nos valores transcendentais, como a verdade, a perfeição, o belo e o bem;
• Imitação: é quando há um cumprimento das formas e gêneros da Antiguidade, dando preferência sobre o impulso pessoal e na busca da originalidade. É também quando todos os autores latinos e gregos são “recuperados” como modelos de perfeição, beleza e ideais de verdade;
• Equilíbrio e harmonia: quando há um equilíbrio e uma harmonia de fundo e forma, ou seja, clareza, intensidade vital, mentalidade aberta, euforia, perenidade e etc.;
• Culto da Antiguidade greco-latina: é quando os deuses eram considerados pagãos, onde eram usados como claras alegorias e também como figuras literárias;
• Fusionismo: quando há uma combinação entre revitalização da herança greco-romana e o legado do cristianismo. É considerada uma fusão do paganismo e do racionalismo, tendo uma tradição judaico-cristã, que faz com que Camões harmonize as divindades da mitologia pagã com alguns personagens bíblicos tanto do Antigo, como do Novo testamento;
• Verossimilhança: quando os Clássicos começaram a entender que o belo é o verdadeiro, o racional, onde o verdadeiro é o natural, com isso se da à valorização da natureza e sua imitação artística. • Ideal ético-estético: esse ideal segue os gregos, ou seja, as idéias de beleza, sempre estavam relacionadas à de Bem, como uma idéia de perfeição e ao mesmo tempo ético e estético, portanto o Bem é o Belo e vice-versa.
A PROPORÇÃO ÁUREA
Também conhecida como número de ouro, número áureo ou proporção de ouro, é uma constante real algébrica irracional denotada pela letra grega (PHI), em homenagem ao escultor Phideas (Fídias), que a teria utilizado para conceber o Parthenon, e com o valor arredondado a três casas decimais de 1,618. Também é chamada de seção áurea (do latimsectio aurea), razão áurea, razão de ouro, média e extrema razão (Euclides), divina proporção, divina seção (do latim sectio divina), proporção em extrema razão, divisão de extrema razão ou áurea excelência. O número de ouro é ainda frequentemente chamado razão de Phidias.
Desde a Antiguidade, a proporção áurea é usada na arte. É frequente a sua utilização em pinturas renascentistas, como as do mestre Giotto. Este número está envolvido com a natureza do crescimento. Phi (não confundir com o número Pi ) pode ser encontrado na proporção dos seres humanos (o tamanho das falanges,ossos dos dedos, por exemplo) e nas colméias, entre inúmeros outros exemplos que envolvem a ordem do crescimento. Por sua frequência, ganhou um status de "quase mágico", sendo alvo de pesquisadores, artistas e escritores. Apesar desse status, o número de ouro é apenas o que é devido aos contextos em que está inserido: está envolvido em crescimentos biológicos, por exemplo. O fato de ser encontrado através de desenvolvimento matemático é que o torna fascinante.
A proporção áurea foi muito usada na arte, em obras como O Nascimento de Vênus, quadro de Botticelli, em que Afrodite está na proporção áurea. Essa proporção estaria ali aplicada pelo motivo de o autor representar a perfeição da beleza.Em O Sacramento da Última Ceia, de Salvador Dalí, as dimensões do quadro (aproximadamente 270 cm × 167 cm) estão numa Razão Áurea entre si. Na história da arte renascentista, a perfeição da beleza em quadros foi bastante explorada com base nessa constante. Vários pintores e escultores lançaram mão das possibilidades que a proporção lhes dava para retratar a realidade com mais perfeição. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, tem a proporção áurea nas relações entre o tronco e a cabeça, bem como nos elementos da face, mas isso é uma característica inerente ao ser humano e tais proporções podem ser encontradas na maioria das pinturas em que a anatomia tenha sido respeitada.
Medições feitas por computador mostraram que os olhos de Mona Lisa estão situados em subdivisões áureas da tela. Em geometria, o retângulo de ouro surge do processo de divisão em média e extrema razão, de Euclides. Ele é assim chamado porque ao dividir-se a base desse retângulo pela sua altura, obtêm-se o número de ouro 1,618.
Música: o número de ouro está presente em diversas obras de compositores clássicos, sendo o exemplo mais notável a famosa sinfonia n.º 5, de Ludwig van Beethoven. O compositor húngaro Béla Bartók também se utilizou desta relação de proporcionalidade constantemente em sua obra, assim como o fez o francês Claude Debussy em diversas de suas sonatas. No jazz há músicos que usam os números da série Fibonacci na divisão rítmica e dos compassos (Golden Mean).
No livro "O Número de Ouro", Matila Ghyka demonstrou a existência da proporção áurea em textos escritos por Victor Hugo, Shakespeare, Paul Valéry, Pierre Louys, entre outros. Na pesquisa Ghyka relacionou as estrofes de acordo com o ritmo da leitura, o que ele chamou de ritmo prosódico.
O diretor russo Sergei Eisenstein se utilizou do número no filme O Encouraçado Potemkin para marcar os inícios de cenas importantes da trama, medindo a razão pelo tamanho das fitas de película.
BARROCO (Século XVI a XVIII na Europa, a partir do XVII na América)
ABSOLUTISMO e MERCANTILISMO
(RENASCIMENTO)
X
CONTRARREFORMA CATÓLICA, SANTA INQUISIÇÃO
(MEDIEVALISMO)
CONFLITO: ANTROPOCENTRISMO X TEOCENTRISMO
O Barroco foi um pensamento cultural que avançou por muitos países da Europa, marcando profundamente a arquitetura, a escultura, a literatura e a pintura de quase dois séculos de história. Antes de vermos como o Barroco influenciou a arte brasileira, vamos compreender esse estilo de época tão belamente controverso.
O DESEQUILÍBRIO NO MUNDO DA FÉ
Século XVI.
Europa.
A REFORMA PROTESTANTE
Em 1517, Martinho Lutero divulga um conjunto de 95 teses denunciando a venda de indulgências como prática corrupta da Igreja Católica. Para ele, o único caminho era uma vida regrada, marcada pela religiosidade, pelo arrependimento sincero dos pecados e pela confiança na misericórdia de Deus.
Além da Alemanha, toda Europa passa a conhecer os preceitos luteranos. Muitos fiéis abandonaram a Igreja Católica. Lutero é excomungado pelo Papa Leão X, mas a Reforma Protestante já se encontra difundida entre muitos homens.
A CONTRARREFORMA
Quase três décadas depois, há uma reação católica à reforma luterana com a instalação do Concílio de Trento, definindo medidas que pudessem conter a evasão das igrejas e a “perda” na fé católica.
As medidas mais importantes foram:· o ressurgimento do Tribunal do Santo Ofício (Santa Inquisição);· a criação do Index Librorum Proibitorum para os católicos. Entre as leituras proibidas, Copérnico, Galileu, Descartes, Rousseau, Victor Hugo, Alexandre Dumas, Sartre;· a criação da Companhia de Jesus, no combate à Reforma, por meio da catequização dos povos que pertenciam às colônias portuguesa e espanhola.
A CULTURA BARROCA
Como movimento cultural, o Barroco inicia-se ao final do séc XVI, ganha força, principalmente no séc XVII e segue até o início do séc XVIII, perpassando pela Itália, pela Espanha, pela Holanda, chegando às colônia, como o Brasil.
Toda situação de tensão e de conflito religioso influencia o Barroco em todas as artes. Por essa feita, os artistas barrocos unem aspectos contraditórios.
· sagrado x profano
· luzes x sombras (chiaroscuro)
· paganismo x cristianismo
· racional x irracional
· perdão x culpa
É a representação do mundo instável. Há a tensão entre harmonia e desarmonia. Muitos estudiosos defendem que o próprio título “barroco”, dado a este estilo de época, reflete a irregularidade do movimento, por significar “pérola irregular”, “pérola deformada”. A chave para compreender a literatura barroca é aceitar que ela foi escrita com o objetivo de desencadear uma reação no público leitor.
Embora muito restrita à corte, às universidades e centros de poder, a circulação dos textos literários cria um diálogo produtivos entre autores diferentes, gerando as Academias (agremiações) que avaliam o que é produzido na época. O público barroco é essencialmente composto por poetas, por isso, os textos eram mais elaborados para leitores sofisticados.
CARACTERÍSTICAS DO BARROCO EUROPEU
· FUSIONISMO: fusão das visões medieval e renascentista (antagônicas). É a união dos opostos.
· CULTO DOS CONTRASTES: perdão/pecado;carne/espírito;juventude/velhice; céu/terra/erotismo/espiritualidade.
· PESSIMISMO: o conflito religioso gera descontentamento e tensão, acentuando o caráter pessimista em algumas obras a respeito do mundo, da vida terrena (busca pelo Paraíso)
· FEÍSMO: Aspecto cruéis, dolorosos, repugnantes.
· REBUSCAMENTO / HERMETISMO: linguagem e conceitos fechados, excesso(figuras de linguagem)
· TEATRALIDADE: representação do movimento, a partir das curvas (opondo-se às retas renascentistas); ao drama (na escultura, a representação dos olhos arregalados); conferindo um caráter exagerado, afetado, a fim de provocar o receptor.
· As estratégias linguísticas mais comuns são hipérbole, hipérbato, quiasmo, paradoxo, antítese, metáfora, anáfora, oxímoro.
AS CORRENTES BARROCAS
JOGO DE PALAVRAS:
I. CULTISMO (gongorismo) Predominante na poesia e tendo como maior representante, o espanhol Luis de Góngora Y Argote, o cultismo caracteriza-se pela elaboração muito rebuscada da linguagem, apresentando:
- jogos de palavras: sinonímias, antonímias, trocadilhos, perífrases
- jogos de imagens: figuras de linguagens (paradoxos, antíteses, metáforas, hipérbatos, hipérboles)
- jogos de construção: sintaxe elaborada
JOGO DE IDEIAS:
II. CONCEPTISMO (quevedismo)
Esse estilo predomina em textos em prosa. A elaboração está no aspecto conceitual do texto, valorizando a construção intelectual, o conteúdo.
Recorre à metáforas, hipérboles, paradoxos, antíteses. Seu maior representante foi Antonio Quevedo.
OS ARTISTAS BARROCOS NA EUROPA
É importante o reconhecimento dos principais artistas que propagaram este estilo pela Europa.
- Música:Johann Sebastian Bach; Antonio Vivaldi; George Friedrich Handel.
- Pintura:Diego Velázquez; Michelangelo; Caravaggio; Rembrandt; Rubens.
- Escultura:Gian Lorenzo Bernini; Francesco Borromini; Nicola Salvi.
BARROCO NO BRASIL
Fonte: Academia Brasileira de Letras
Gregório de Matos Guerra, advogado e poeta, nasceu na então capital do Brasil, Salvador, BA, em 20 de dezembro de 1636, numa época de grande efervescência social, e faleceu em Recife, PE, em 1696. É o patrono da Cadeira n. 16, por escolha do fundador Araripe Júnior.
Estudou Humanidades no Colégio dos Jesuítas e depois transferiu-se para Coimbra, onde se formou em Direito. Sua tese de doutoramento, toda ela escrita em latim, encontra-se na Biblioteca Nacional. Exerceu em Portugal os cargos de curador de órfãos e de juiz criminal e lá escreveu o poema satírico Marinícolas.
Desgostoso, não se adaptou à vida na metrópole, regressando ao Brasil aos 47 anos de idade. Na Bahia, recebeu do primeiro arcebispo, D. Gaspar Barata, os cargos de vigário-geral (só com ordens menores) e de tesoureiro-mor, mas foi deposto por não querer completar as ordens eclesiásticas.
Apaixonou-se pela viúva Maria de Povos, com quem passou a viver, com prodigalidade, até ficar reduzido à miséria. Passou a viver existência boêmia, aborrecido do mundo e de todos, e a todos satirizando com mordacidade. O governador D. João de Alencastre, que primeiro queria protegê-lo, teve afinal de mandá-lo degredado para Angola, a fim de o afastar da vingança de um sobrinho de seu antecessor, Antônio Luís da Câmara Coutinho, por causa das sátiras que sofrera o tio. Chegou a partir para o desterro, e advogava em Luanda, mas pôde voltar ao Brasil para prestar algum serviço ao Governador. Estabelecendo-se em Pernambuco, ali conseguiu fazer-se mais querido do que na Bahia, até que faleceu, reconciliado como bom cristão, em 1696, ao 73 anos de idade.
Como poeta de inesgotável fonte satírica não poupava ao governo, à falsa nobreza da terra e nem mesmo ao clero. Não lhe escaparam os padres corruptos, os reinóis e degredados, os mulatos e emboabas, os “caramurus”, os arrivistas e novos-ricos, toda uma burguesia improvisada e inautêntica, exploradora da colônia. Perigoso e mordaz, apelidaram-no de “O Boca do Inferno”.Foi o primeiro poeta a cantar o elemento brasileiro, o tipo local, produto do meio geográfico e social. Influenciado pelos mestres espanhóis da Época de Ouro Góngora, Quevedo, Gracián, Calderón sua poesia é a maior expressão do Barroco literário brasileiro, no lirismo. Sua obra compreende: poesia lírica, sacra, satírica e erótica. Ao seu tempo a imprensa estava oficialmente proibida. Suas poesias corriam em manuscritos, de mão em mão, e o Governador da Bahia D. João de Alencastre, que tanto admirava “as valentias desta musa”, coligia os versos de Gregório e os fazia transcrever em livros especiais. Ficaram também cópias feitas por admiradores, como Manuel Pereira Rabelo, biógrafo do poeta. Por isso é temerário afirmar que toda a obra a ele atribuída haja sido realmente de sua autoria. Entre os melhores códices e os mais completos, destacam-se o que se encontra na Biblioteca Nacional e o de Varnhagen no Palácio Itamarati.
Quatro sonetos de Gregório de Matos Guerra, o “Boca do Inferno” (Brasil, século XVII):
1.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-nos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
2.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
3.
Um soneto começo em vosso gabo;
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei
.Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
4.PONDO OS OLHOS PRIMEIRAMENTE NA SUA CIDADE CONHECE QUE OS MERCADORES SÃO O PRIMEIRO MÓVEL DA RUÍNA, EM QUE ARDE PELAS MERCADORIAS INÚTEIS, E ENGANOSAS.
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
SITUAÇÃO HISTÓRICA
O século XVII europeu constitui época profundamente conturbada porque bifurcada pela vivência de uma forte crise espiritual: de um lado, o racionalismo recém-triunfante (Descartes, Newton, Leibnitz e Pascal). e de outro, o espírito da Contrarreforma, concretizado pela Inquisição e pelo aparato de dominação ideológico-religioso, utilizado nas Colônias pela Península Ibérica. Daí a difícil convivência entre o absolutismo contra-reformista dos domínios da Casa da Áustria e o modus vivendi reformista e burguês característico da República das Províncias Unidas dos Países Baixos.
O painel da ambivalência seiscentista vai estruturar-se, desta forma, num extremo, pela submissão ao autoritarismo da fé e do poder político e, no outro, pelos precursores ensaios de um interpretação mecanicista e científica dos fenômenos vitais, a começar pela idéia cartesiana de um Deus não mais como transcendência , mas, apenas, como garantia do equilíbrio universal de imutáveis leis científicas.
Em Portugal, a desintegração da União Ibérica (1580 - 1640), sob a égide da restauração da Dinastia dos Bragança, com D. João IV (1640 - 1656), apóia-se no fortalecimento da burguesia urbana em função do comércio de produtos brasileiros. O dinheiro burguês e as alianças diplomáticas e militares com a Holanda, a Inglaterra e a França sustentaram a guerra da independência frente à Espanha. O sopro de uma nova mentalidade mais comprometida com os fatores de ordem extra-religiosa e o afastamento da influência castelhana vão caracterizar os rumos da cultura portuguesa, na época. Justamente a emergência de uma visão de mundo mais atualizada vai explicar a multiplicação dos folhetos polêmicos e satíricos, antes e depois da Restauração, e o aparecimento dos jornais mensais como, por exemplo, o Mercúrio Português (1663 - 1667).Mas, apesar desta “maré” renovadora, as ordens religiosas, especialmente a companhia de Jesus e a Inquisição, vão manter seu alto prestígio na condução da vida sócio-cultural e dos negócios do Estado. A própria Universidade de Coimbra ainda oferece, em plena segunda metade do século XVII, um tipo de ensino eminentemente escolástico e formalista, inteiramente divorciado dos avanços científicos e filosóficos, marcantes em outras partes da Europa.
No Brasil, até 1654 (assinatura pelas autoridades holandesas da sua rendição, a Capitulação da Campina do Taborda), os efeitos da União Ibérica fazem-se sentir pela constante presença invasora de estrangeiros, hostis aos interesses da dominação social espanhola. A disputa hIspano-holandesa, agravada pela intervenção da França e da Inglaterra, visa, sobretudo, à queda do monopólio comercial luso-espanhol. Durante o século XVII, o expansionismo holandês, financiado e dirigido pela Companhia das Índias Ocidentais, sobressai-se não só pela quantidade das arremetidas militares, como também pela longevidade, da dominação conseguida. Além da ocupação de Pernambuco (1630 - 1654), os holandeses, desde 1624-25, realizam sucessivas investidas contra Salvador, ocasionando constantes perturbações na vida sócio-econômica da cidade, tanto pelo constante clima de tensão e violência, quanto pela desorganização dos meios de produção, resultante da destruição de inúmeros engenhos de cana e da insegurança dos transportes e do comércio, por via marítima.
A partir da restauração portuguesa, a administração colonial passa a ser cada vez mais controlada não só pela instituição do Conselho Ultramarino (1642) - destinado a liberar sobre “todas as matérias e negócios de qualquer qualidade que forem tocando aos ditos Estados da Índia, Brasil”, como também pela fundação da Companhia Geral do Comércio do Estado do Brasil (1649), ambas as medidas da iniciativa de D. João IV. Por isso, já no final do século XVII, passam a ocorrer, no Brasil, vários levantes contra o estado português. São os chamados “movimentos nativistas” que, embora não vissem a um projeto de separação política de Portugal, propõem reformas setoriais no sistema colonial. A revolta de Beckman (1684-85), como uma das conspirações seiscentistas mais importantes, confirma o caráter regional destes distúrbios e sua principal motivação: o conflito entre produtores (senhores de engenho) e comerciantes (burguesia mercantil) em tornodas práticas do monopólio comercial que possibilita a seus agentes amplos privilégios no contexto da dominação portuguesa, mescla, no convívio dissonante entre a tradição do colonizador, os costumes do seu escravo e o perfil diferente e estranhado do índio, o dono da terra.
ESTUDO CRÍTICO
O estudo da obra satírica atribuída a Gregório de Matos delineia o horizonte a partir do qual vão se desenvolver recursos e alternativas para um futuro projeto literário brasileiro. Se, com o progressivo amadurecimento político-cultural da sociedade brasileira, a sua produção literária, cada vez mais, veio a conceber-se num permanente movimento de crítica da cultura, a solução satírica, naquela altura do século XVII, consegue antecipar tendências, integrar características e sintetizar elementos, posteriormente retomados e reelaborados. Daí, a fundamental importância de um estudo do legado textual reunido em torno do eixo Gregório de Matos. A confluência entre a forma ambígua e descontraída de sua sátira e determinados procedimentos estéticos, implicados na emergência de um sistema intelectual brasileiro, justifica sem dúvida, a atualidade da tarefa.A estruturação dramática e contraditória da forma humorística __ historicamente voltada para a problematização do contrastante e do dúbio na convivência humana __ vai ajustar-se , sobremaneira, à captação crítica de uma fala cultural brasileira.
Isto porque, cravada num torvelinho de múltiplas influências, a sociedade local foi-se estruturando pela amplitude do raio de influências que forjou e pelo caráter contraditório de sua mística, a figura de Gregório de Matos pode ser tomada como o pioneiro perfil, tenso e dividido do intelectual brasileiro.
Baiano, filho da aristocracia latifundiária, formado em Direito por Coimbra, começa, em nível da própria peripécia individual. Filho da terra; culturalmente seduzido pela Metrópole. Sua obra reitera o ambivalente convívio entre formação cosmopolita e circunstância brasileira, como cita Eduardo Portela, em Confluências: “(...) de um lado a tendência `a introversão, numa linha de franca ascendência maneirista, e do outro, o gesto largo, extrovertido, festivo, enfatizando o compromisso barroco (...).”
A sátira, porque muito afinada ao caráter lúdico, à inclinação popular e ao empenho problematizador característicos da crise do homem pós-renascentista, vai assumir, na obra de Gregório, o comando de sua vertente barroca. A contrapartida à solene ironia, característica da lírica maneirista vai constituir-se, na solução satírica, pelo tom debochado e abertamente crítico muito afinado às fontes populares de criação. Ao contrário da literatura séria, supervalorizada por toda a tradição cultural do ocidente, desde a Poética de Aristóteles, as formas cômicas, porque mais permeáveis à influência das festas e ritos populares, vão apresentar uma visão de mundo mais relativizada e saudavelmente transgressora diante dos padrões de comportamento consagrados pelo poder oficial.
A ética do carnaval e dos rituais religiosos não institucionais, ao reverter os parâmetros vigentes no centro da autoridade constituída, constrói uma nova lógica, estranha à rigidez unilateral da convenção, mesclada e paradoxal. Nela, os extremos se tocam e confundem e o homem deixa de ser visto como uma entidade abstrata e compartimentada em que a vocação espiritual exclua o apelo material. O sentimento cômico do mundo, ao conceber a existência enquanto permanente metamorfose, mudança de processo, abandona as excludentes certezas da seriedade institucional e elege a dispersão de limites como alternativa possível. Daí a mistura, a efusiva conciliação entre vida/morte, princípio/fim, sagrado/profano, sublime/grotesco. Daí a recusa à visão absolutista e excludente do mundo como conjunto hierárquico de seres e valores resolvidos, inerente ao centro oficial de poder.
I Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
(...)
O poeta descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
2. Padre Vieira
Entre os mais famosos sermões de Vieira, pode ser destacado o Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640), em que o autor se apresenta diante de Deus, contrapondo a excelência da religião católica sobre as religiões modernas de fundo protestante. Seu ponto alto está na ironia com que vai discorrendo e, ao mesmo tempo, descrevendo a posição de Deus como árbitro da futura contenda entre portugueses e holandeses. O Sermão de Santo Antônio aos peixes (1653) satiriza os vícios dos colonos, por meio de alegorias e comparações com os hábitos dos peixes. O Sermão da Sexagésima ridiculariza os exageros da escola gongórica (imitação exagerada e pouco criativa dos esquemas retóricos de Luís de Gôngora, poeta barroco espanhol).
Sermão de Santo Antônio aos Peixes
O sermão foi proferido em São Luís do Maranhão em 13 de junho de 1654, dia de Santo Antônio e três dias antes da partida de Vieira para Portugal, onde pretendia interceder em favor dos índios diante das autoridades portuguesas. O sermão é construído em forma de alegoria, dirige-se aos peixes mas, na verdade, fala aos homens. O texto está dividido em seis partes. A primeira delas é o exórdio, ou introdução, na qual faz o chamamento "Vós sois o sal da terra". Os pregadores são o sal da terra, cabendo ao sal impedir a corrupção. Mas na terra não lhes dão ouvidos, por isso voltam-se para o mar, onde estão os peixes. Há também a invocação da Virgem Maria. Nas partes II a V temos o desenvolvimento do sermão. Antônio Vieira exalta as qualidades dos peixes, como a obediência, e repreende os vícios, como a soberba e o oportunismo. Deve-se destacar aí a citação de diversos tipos de peixes. As virtudes são descritas nos peixes de Tobias, Rémora, Torpedo e Quatro-Olhos. Já os defeitos estão nos seguintes peixes: Roncadores, Pegadores, Voadores e no Polvo. O principal defeito apontado é a voracidade, já que os peixes devoram uns aos outros, e, pior ainda, os maiores devoram os menores. A última parte é a peroração, ou conclusão, na qual Vieira exalta os peixes que, por sua natureza, não podem ser sacrificados vivos a Deus e sacrificam-se então, em respeito e reverência. Confessando-se pecador, o orador se despede com uma oração de louvor a Deus.
Sobre o autor
Antônio Vieira é o maior representante da prosa barroca no Brasil e o maior orador sacro do Brasil-Colônia. Nascido em Portugal, veio para o Brasil ainda criança e estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador.
Importância dos sermões
Os sermões do Padre Vieira são o melhor exemplo do Barroco Conceptista no Brasil. São textos que usam a retórica, com jogos de ideias e palavras, para convencer os leitores (no caso, os assistentes) pelo raciocínio, mais que pela emoção. No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, além de exaltar a necessidade da pregação, Vieira usa a alegoria dos peixes para criticar a exploração do homem pelo homem e, mais especificamente, para condenar a escravidão indígena.
Período histórico
Na época em que o sermão foi escrito, 1654, Padre Antônio Vieira lutava contra a escravidão indígena e contra a exploração portuguesa. Logo depois do sermão, o Padre foi para Portugal interceder pelos índios.
No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, Vieira junta sua devoção ao santo à preocupação que o levaria, dias depois da pregação, a fugir secretamente para Portugal: a questão da escravidão e dos maus tratos contra os indígenas. A alegoria e a ironia são a chave de um discurso argumentativo que quer levar o ouvinte à reflexão. Ao mesmo tempo, a saudação inicial “Vós sois o sal da terra” é um chamamento à participação ativa na sociedade. A discussão sobre as virtudes e os vícios humanos passa necessariamente por uma preocupação social. A ideia de que peixes maiores comem os peixes menores, ou seja, que a grandeza de cada um na sociedade tem valor relativo, surge espantosamente à frente do seu tempo. Em plena era mercantil, o texto de Vieira, por meio da alegoria, desvenda para os colonos do Maranhão a realidade da competição proto-capitalista: são peixes grandes na colônia, pois escravizam os nativos, que consideram inferiores, porém, uma vez na metrópole, serviriam de alimento para outros peixes maiores, contra os quais não teriam defesa. Portanto, o texto de Vieira, datado do século XVII, traz para nós uma inquietante contemporaneidade, pois seus temas principais são a ganância humana e a corrupção da sociedade, assuntos mais do que presentes em nosso cotidiano. Por meio de sua linguagem finamente elaborada, Vieira nos faz refletir sobre os desafios da sociedade de seu tempo, nos ajudando também a pensar sobre a nossa realidade.
Trecho do Sermão:
“A primeira coisa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, mas os grandes comem os pequenos. Se fosse ao contrário, era menos mal. Se os pequenos comessem os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, preversisque cupiditatibus facti sunt, sicut piscis invicem se devorantes: «Os homens, com as suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros». Tão alheia coisa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.”
MENSAGEM (Fernando Pessoa)
II. OS AVISOS
SEGUNDO / ANTÓNIO VIEIRA
O céu 'strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia, e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
Exercício 1. No Brasil, havia também um conflituoso contexto no Barroco: a presença constante de invasores estrangeiros (século XVII) na disputa hispano-holandesa pelo Brasil, que visava, sobretudo, à queda do monopólio comercial luso-espanhol. Essa disputa perturbava a vida em Salvador, capital do Brasil na época e cidade onde escreveram os autores barrocos, de educação jesuíta, Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. As perturbações causavam um clima de tensão e violência, bem como desorganização dos meios de produção resultante da destruição de inúmeros engenhos de cana-de-açúcar. Já no final do século XVII, passam a ocorrer no Brasil movimentos nativistas, contra o Estado português, que, embora não visassem à separação política de Portugal na época, propuseram reformas no sistema colonial. O conflito entre produtores (senhores de engenho) e comerciantes (burguesia mercantil) sobre o monopólio comercial da cana contribuíam para o cenário de conflitos, que mescla a colonização, os costumes dos escravos e os perfis dos índios. Nesse contexto, o poeta Gregório de Matos e o padre Antônio Vieira escrevem seus textos.
Leia os seguintes trechos de suas escritas e responda à pergunta que os segue:
De Gregório de Matos:
PONDO OS OLHOS PRIMEIRAMENTE NA SUA CIDADE CONHECE QUE OS MERCADORES SÃO O PRIMEIRO MÓVEL DA RUÍNA, EM QUE ARDE PELAS MERCADORIAS INÚTEIS, E ENGANOSAS.
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote (estrangeiro).
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
De Padre Vieira:
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640)
Os velhos, as mulheres, os meninos, que não têm forças nem armas com que se defender, morrem como ovelhas inocentes às mãos da crueldade herética, e os que podem escapar à morte, desterrando-se a terras estranhas, perdem a casa e a pátria. (...) Não fora tanto para sentir, se, perdidas fazendas e vidas, se salvara ao menos a honra; mas também esta a passos contados se vai perdendo; e aquele nome português, tão celebrado nos anais da fama, já o herege insolente com as vitórias o afronta, e o gentio de que estamos cercados, e que tanto o venerava e temia, já o despreza.
PERGUNTA: Explique as principais críticas de Gregório de Matos e de Antônio Vieira à situação conflituosa no Brasil da época. Cite partes do poema e do sermão para justificar sua resposta.
Exercício 2. O Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo (século XVIII) foi assim batizado em razão da esfera rural do Peloponeso, a Arcádia, localizada na antiga Grécia. Sua concepção mais importante é a celebração da vida natural, com ideais burgueses. Daí vários dos poetas desta escola terem assumido nomes de pastores greco-romanos. O contexto europeu é o da Revolução Industrial e do Iluminismo. As principais características são: inutilia truncat (cortar o inútil), carpe diem (aproveitar o dia), fugere urbem (fuga da cidade), locus amoenus (bucolismo, pastoralismo, lugar ameno, tranquilo) e aurea mediocritas (o equilíbrio vale ouro). Há retomada dos valores clássicos: racionalismo (1756 – Arcádia Lusitana: artistas debatendo arte), equilíbrio, harmonia na composição e na vida, arte ética (bem/belo). Contra a Contrarreforma, contra o Barroco, contra excessos, adotam uma linguagem mais simples e direta. Usam o verso branco (sem rima). Caráter político: contra privilégios da nobreza.
Em Portugal, Bocage é o mais importante poeta árcade. No Brasil, o centro econômico da mineração na época, Minas Gerais, foi o lugar em que publicaram os poetas árcades brasileiros: Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Estes eram, também, participantes da Inconfidência Mineira, o que trouxe ao Arcadismo brasileiro uma atmosfera bem específica, diferente da europeia.
Leia os seguintes poemas de Bocage (Portugal) e de Tomás Antônio Gonzaga (Brasil):
Poema de Bocage:
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre flores?
Vê como ali, beijando-se, os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes
As vagas borboletas de mil cores!
Naquele arbusto o rouxinol suspira;
Ora nas folhas a abelhinha pára.
Ora nos ares sussurrando, gira.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
Poema de Tomás Antônio Gonzaga:
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza.
Atende, como aquela vaca preta
O novilhinho seu dos mais separa,
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta.
Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela
Suporta que lhe morda o filho o corpo,
E salte em cima dela.
Repara, como cheia de ternura
Entre as asas ao filho essa ave aquenta,
Como aquela esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;
Como se encoleriza,
E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto deles pisa.
Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito brando,
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
“De teu querido pai a mesma barba,
“A mesma boca, e testa.”
PERGUNTA: Quais as principais semelhanças entre os dois poemas e por que eles são considerados árcades?